terça-feira, 20 de janeiro de 2015



Eu me lembro que chovia
tanto quanto as minhas lágrimas
quando meu pai me levou
para ver a minha mãe
que jazia em um caixão.
Entre rostos conhecidos
caminhei ao lado dele,
abraçado sob a chuva.
Outras lágrimas às nossas
se juntavam no percurso
da casa vizinha à sala
onde a mãe era velada.
Da face de minha mãe,
lembro de uma violácea
mancha próxima à sua boca,
que nunca soube o que era.
O vestido que trajava
era verde e florido,
um dos mais belos que tinha
e que deixava mais linda.
Quatro décadas depois,
tenho só estas lembranças.
Na manhã de um novo ano,
eu me lembro que chovia
tanto quanto as minhas lágrimas.
Eu chovia com o céu
e o céu chorava comigo.


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