Aprendi com uma tia
a andar por cemitérios,
a buscar nas tantas campas
as histórias escondidas.
De que morrera a criança
cuja foto desbotada
talvez fosse a imagem
única
da vida cedo ceifada?
Sempre chamou-me a atenção
as pessoas jovens, belas,
cujos retratos nos túmulos
as mostrava como em festa.
Curiosas velhas datas,
que a exercitar levavam-me
uma simples matemática
para descobrir idades.
As primeiras emoções
que os mausoléus
causaram-me
foram com casais em fotos,
pouco tempo separados.
Toda uma vida juntos,
quando a morte um levara,
o outro vivera em saudade,
logo indo a seu encontro.
Eu cresci e continuei
a passear em cemitérios,
descobrindo belas artes
e o sepulcro de famosos.
Pelas capitais do mundo,
quantos campos visitei,
onde a história dos
sepultos
ali continuam vivas!
Mas há cruzes espalhadas
em diversos campos santos,
que comove quem as vê,
sendo chagas deste mundo.
Com pesar e indignação
visitei, quando em Lisboa,
o Cemitério Inglês,
bela cidade dos mortos.
Comoveram-me as lápides
de inúmeros soldados
mortos na Primeira Guerra,
sepultados n’outra pátria.
Eram jovens, muito jovens,
e a guerra amputou-lhes
a juventude e a vida
e o descanso em terra
inglesa.
Quantos sonhos enterrados!
Quantos talentos ceifados!
Quantos filhos sepultados
longe e antes de seus pais!
Se há desumanidade,
esta tem o nome “Guerra”,
pois mata o que há de
humano
em cada filho de Adão.
São alguns que a guerra
fazem,
mas são outros os que a
lutam.
Alguns poucos dão as
ordens
E são outros que a
executam.
Se os que armam as guerras
circulassem entre túmulos
e buscasse as histórias
e os sonhos sepultados,
se ouvissem tantos pais
e esposas e os filhos
co’os corações mutilados,
quiçá a guerra cessariam.
Entre túmulos caminho,
tendo em mim tais
pensamentos.
Paro em frente a uma flor
que abriu-se em meio à
morte.
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